SUBNOTA TÉCNICA.
A possibilidade de
iatrogenia citada no texto: “Recentemente, informações têm sido divulgadas
dizendo que esses sais de alumínio e seus derivados usados em antitranspirantes
estariam causando câncer de mama nas mulheres“.
Segue parecer técnico de
2011.
Brasília, quatro de julho
de 2001
Parecer Técnico sobre o
Uso de Antitranspirantes e sua Relação com Câncer de Mama
I) Introdução
Recentemente, informações
têm sido divulgadas através da Internet, na maioria das vezes anônimas, as
quais veiculam informações relacionando-se os sais de alumínio e seus
derivados, usados em antitranspirantes e possíveis casos de ocorrência de
câncer de mama.
Com o objetivo de trazer
informações à população, pautadas em dados, à luz dos conhecimentos científicos
atuais a ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária - através da
Gerência-Geral de Cosméticos, constituiu subcomissão de trabalho, composta por
membros da Catec - Câmara Técnica de Cosméticos, para avaliação das informações
acima referidas, e posterior emissão de parecer técnico - cientifico.
II) Definição e Legislação
Brasileira
Segundo o Decreto nº
79.094, de 5 de janeiro de 1977(1), antiperspirantes são produtos
"destinados a inibir ou diminuir a transpiração, podendo ser coloridos
e/ou perfumados, apresentados em formas e veículos apropriados, bem como,
associados aos desodorantes". Os diferentes ativos preconizados para uso
como antiperspirantes e suas recomendações de uso são regulamentados através da
Resolução RDC nº 79, de 28 de agosto de 2000 (2) - ANVISA - item V.
Todos os produtos
referidos como antitranspirantes / antiperspirantes são classificados como
produtos de grau de risco 2, passíveis de registro, obedecidas as formalidades
legais. Mas, segundo Draelos (3) desodorantes são tidos como formulações
destinadas a remover o odor das axilas, enquanto que os antitranspirantes são
usados para promoverem a redução da quantidade de suor produzido através de
mecanismos fisiológicos. A maioria dos antitranspirantes também funciona como
desodorante, mas a maioria dos desodorantes não age como antitranspirante.
III) Fisiologia da
transpiração e mecanismo de ação dos antitranspirantes
Antecedendo a discussão a
respeito da fisiologia da transpiração e mecanismos de ação dos
antitranspirantes, a título de melhor entendimento do presente parecer, deve
ser abordado aspectos pertinentes à absorção de sais de alumínio através da
pele, conforme enfocado por Anane e col.(4). Segundo Covington (5), os sais de
chumbo são solúveis em água, a mesma propriedade físico-química atribuída aos
sais de zircônio.
O mecanismo de absorção
através da pele está sujeito a distintos fatores tais como: solubilidade do
ativo, formulação, concentração, tempo de exposição, condições fisiopatológicas
da pele, etc. Com o objetivo de tentar esclarecer a absorção dos sais de
alumínio presentes nas formulações de antiperspirantes, Flarend e col. (6)
desenvolveram trabalho experimental onde indivíduos do sexo masculino e
feminino foram expostos às soluções de cloridróxido de alumínio (Al2 (OH)5. Cl.
2 H2O) a 21%, contendo alumínio radioativo. Para tanto, 0,4 mL da solução acima
referida, foram transferidas para seringas e, aplicada nas axilas dos
voluntários e, em seguida, espalhadas com algodão (swab).
Os autores observaram todos
os cuidados necessários para a realização do experimento. A avaliação da
absorção do alumínio, utilizando-se da molécula radioativa foi determinada nas
amostras de sangue e urina. As aplicações desta solução e as coletas de
amostras de sangue e urina foram realizadas segundo o delineamento do protocolo
previamente elaborado. A absorção quer através das análises realizadas nas
amostras de sangue e/ou de urina, ficou plenamente caracterizada.
Entretanto, segundo os
autores, as concentrações de alumínio radioativo eram tão baixas que tornavam
os resultados não confiáveis. Finalizando, os autores sugeriram que uma simples
aplicação nas axilas da solução de cloridróxido de alumínio, na concentração
referida, não aumentou significativamente a carga de alumínio corpóreo.
Entretanto, os autores salientaram que estudos mais detalhados tornar-se-ão
necessários para esclarecer a absorção do alumínio através da pele.
A transpiração assume
importante ação no mecanismo fisiológico relativo aos processos de regulação da
temperatura corpórea (homeostase), ou seja, procurando manter o estado de
equilíbrio entre as variações de temperatura corpórea e a do meio ambiente. No
suor, como principais constituintes, foram determinadas elevadas concentrações
das seguintes substâncias químicas: ácido láctico, uréia, aminoácidos e cloreto
de sódio, às quais tem sido atribuídas propriedades no processo de hidratação
natural (NMF), conseqüentemente, participando na elaboração de um filme
hidrolipídico de superfície, que mantém a umidade da camada córnea da pele (7).
Ainda, como fatores
naturais de hidratação das axilas cerca de 25.000 glândulas écrinas são capazes
de produzirem grandes quantidades de agentes perspiratórios, em resposta ao
calor e aos estímulos emocionais. Papa e col. (8), propuseram que, dentre os
compostos químicos mais utilizados para reduzir a perspiração os sais de
alumínio e seus complexos (cloridroxido) têm sido referidos como os mais
freqüentes, opinião da qual participa Exley (9). Papa e col. propuseram ainda
que alguns sais inorgânicos atuavam nos ductos das glândulas sudoríparas
promovendo danos na difusão do suor secretado para o espaço intersticial. Eles
se retrataram em sua teoria (8).
Shelley e col. (10)
propuseram que alguns sais metálicos se combinam às fibrilas de queratinas
intraductais causando fechamentos dos ductos écrinos e a formação de uma
"rolha" córnea e assim, obstruindo o fluxo de suor para a superfície
da pele. Papa e col. (8) apresentaram evidências de que os antiperspirantes
contendo sais de alumínio podem alterar o estado fisiológico do ducto
sudoríparo, através da formação de um molde de alumínio no seu interior, ou
seja, devido a formação de um bloqueio físico prevenindo, dessa forma, o fluxo
do suor existente. Presumiu-se, ainda, que a secreção pudesse ser reabsorvida
pelo ducto. Segundo os referidos autores, a alteração acima referida não causa
danos à saúde em razão da grande quantidade de outras glândulas écrinas às
quais asseguram os processos envolvidos na termorregulação.
IV) Conclusão
.
Segundo Pasqualete(11),
membro do corpo clínico do CEPEM - Centro de Estudos e Pesquisa da Mulher, a
notícia divulgada na Internet "quase todos os casos de câncer de mama
acontecem no quadrante superior da área do peito, justamente onde os nódulos
linfáticos estão localizados e que, mu-lheres que passam antiperspirantes, logo
depois de raspar as axilas , aumentam o risco de incidência de câncer"
pode ser esclarecida. Continuou o Dr. Pasqualete: "De fato, a incidência
de câncer observada neste quadrante é um pouco maior, mas a explicação é
simples.
É justamente ali que
encontramos a maior quantidade de tecido mamário e, portanto, é uma área com
maior possibilidade para desenvolvimento da doença. É importante lembrar que, a
drenagem linfática da mama não ocorre apenas na axila, mas em outros locais,
como mediastino e peritônio (áreas no tórax)".
Segundo dados fornecidos
pelo Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos também não foram
mencionadas pesquisas que pudessem evidenciar, até a presente data, tal
correlação. Ainda, segundo o Food and Drug Administration (FDA), orgão que
regulamenta, entre outros, o setor de produtos cosméticos, também não foram
relatados, até o momento, dados que pudessem evidenciar qualquer suporte à
teoria de que os ativos presentes em formulações de antitranspirantes ou
desodorantes pudessem causar câncer, conseqüentemente, segundo o FDA, parece
não haver embasamento científico para esta preocupação.
Ainda, em relação ao
assunto objeto deste parecer, constantes informações são veiculadas através da
literatura científica bem como através de órgãos governamentais de alta
credibilidade a exemplo dos que se seguem:
http://cis.nci.nih.gov/resources/intlist.htm, e-mail: cepem@opelink.com.br, e
www.inca.org.br .
Após avaliação dos dados
apresentados na literatura cientifica, de divulgação e orgãos de
regulamentação, podemos inferir que até o presente momento não foram
apresentados dados capazes de inferir a relação sais de alumínio / incidência
de câncer de mama, embora a abordagem absorção de sais de alumínio deva
continuar na mira dos pesquisadores da área.
Este é, s.m.j. o nosso
parecer.
V) Referências
Bibliográficas
1- Decreto nº 79.094, de 5
de janeiro de 1977, regulamentando a Lei n.º 6.360, de 23 de setembro de 1976.
2- Resolução nº 79, de 28
de agosto de 2000, publicada em DOU de 31 de agosto de 2000.
3- DRAELOS, Z. D.
Cosméticos em Dermatologia. 2.a ed., 1999. Editora Revinter, Rio de Janeiro.
4-
ANANE, R., M. Bonini, J. M. Bergstein and D. J. Sherrard.. New Engl. J. Med.
1984, 310:1079.
5-
COVINGTON, T. R.. Handbook of Nonprescription Drugs, 11 ed., 1996, American
Pharmaceutical Asso-ciation, Washington DC.
6-
FLAREND, R., BIN, T., ELMORE, D. HEM, S. L. Food Chem. Toxicol., 2001, 39, 163-168.
7- DRAELOS, Zoe Diana.
Aspectos da Transpiração. Cosmetics
& Toiletries, 2001, Vol. 13, jan/fev, pág 36-42.
8-
PAPA, C. M. and KLIGMAN, A. M. Mechanisms of eccrine anhidrosis: II. The
antiperspirant effect of aluminun salts. J. Invest. Dermatol, 1967, 49:139.
9-
EXLEY, C. Does antiperspirant use increase the risk of aluminium-relates
disease including Alzhei-mer's disease? Molec. Med. Today, 1998, 4, 107-109.
10-
SHELLEY, W. B., HURLEY, H. J., Jr. Studies on topical antiperspirant control of
axillary hyperhidrosis. Acta Dermatol. Venereol.,
1975, 55, 241.
11- PASQUALETE, H. A.
Afastado elo entre desodorante e tumor. Entrevista ao Jornal O Globo de 5 de
janeiro de 2000.
VI) Subcomissão
Dermeval de Carvalho -
Prof. Titular aposentado de Toxicologia da Universidade de São Paulo e
Coordenador do Curso de Ciências Farmacêuticas da Universidade de Ribeirão
Preto
Elisabete Pereira dos
Santos - Profª. Adjunto/Faculdade de Farmácia - Universidade Federal do Rio de
Janeiro
Octavio Augusto França
Presgrave - Tecnologista - Instituto Nacional de Controle de Qualidade em
Saúde/FIOCRUZ - RJ.
Lúcia Helena Fávaro de
Arruda - Dermatologista (Sociedade Brasileira de Dermatologia) e Prof. da
Faculdade de Medicina de Jundiaí.
Ana Lúcia Pereira -
Farmacêutica/MsC. Bioquímica - Gerência-Geral de Cosméticos/ Agência Nacional
de Vigilância Sanitária.